Páginas

1 2 3 4
1 2 3 4

FILME DO MÊS: Antifa - Caçadores de Skins

A expressão ‘antifa’ significa antifascista e deu nome ao movimento de jovens franceses contra as ações violentas dos skinheads, que dominavam as ruas de Paris na década de 1980.  A violência dos skinheads tinha como alvos preferenciais os imigrantes, minorias étnicas e homossexuais, contando sempre com a conivência das autoridades. Punks e outras tribos urbanas transformaram-se nos ‘caçadores de skins’ como resposta à violência racial neonazista. 

 Antifa – Caçadores de Skins

Ficha Técnica:

Título original: Antifa, chasseurs de skins
Gênero: Documentário
Direção: Marc-Aurèle Vecchione
País de origem: França
Ano de lançamento: 2008


Sinopse:
 O renascimento do movimento skinhead no início da década de 1980 coincidiu, na Europa, com o crescimento dos partidos de extrema-direita, que se empenhavam em cooptar para suas fileiras jovens da classe operária cuja autoestima havia sido corroída pela crise econômica. Na França, o partido de extrema direita Frente Nacional (Front National - FN), de Jean Marie Le Pen, chegou a obter 20% dos votos, num momento em que a imigração no país atingia o seu auge e os relatos de agressões racistas nas ruas eram diários. Com o lema "a França para os franceses", os fascistas do FN e de outros grupos ainda mais radicais recrutavam seguidores em cada esquina e 99,9% dos skins franceses acabaram cooptados pela extrema-direita, num processo semelhante ao que vinha também ocorrendo em outros países europeus, como a Inglaterra, onde houve uma adesão em massa de skinheads ao National Front e ao BNP (British National Party).

Ao mesmo tempo em que essas gangues manipuladas pelos partidos de extrema direita estavam na iminência de assumir o controle das ruas de Paris, uma forte cena punk/underground se desenvolvia por toda a França. E foi deste caldo de cultura libertário e multiétnico que pulsava nas ruas e nos squats que surgiram as primeiras gangues de Caçadores de Skinheads, dedicadas não apenas à autodefesa em shows e squats, mas, principalmente, a escorraçar as gangues fascistas das ruas.

É a história desse processo de desfascistização das ruas de Paris que Antifa: Chasseurs de Skins conta, explorando também a pré-história do movimento skinhead na França e as primeiras gangues rockers antirracistas, como os As-nays e os Black Panthers, que na década de 1970 enfrentavam gangues de rockers racistas, e que, por sua vez, inspiraram as gangues de Caçadores de Skins propriamente ditas, como os Ducky Boys, os Red Warriors e os Ruddy Fox. Eram gangues multiétnicas, extremamente combativas e fortes, formadas por professores e/ou campeões de alguma arte marcial (Muay Thai, Full Contact, Kung Fu, etc.), como era o caso dos Ducky Boys e dos Red Warriors.

Ler Mais

No Brasil, a pobreza tem cor

O sempre mestre e sempre saudoso Evandro Lins e Silva lembrava-me a força de bisturi da lógica de Anatole France desmontando o igualitarismo farisaico do direito liberal:

“Em sua igualdade majestática a lei proíbe tanto ao rico quanto ao pobre dormir embaixo da ponte, esmolar nas ruas e furtar pão”.

Os dois mestres e a sentença genial me vêm a propósito de telefonema de prezada  amiga e leitora, que me interpela pedindo justificativa para as políticas de afirmação positiva:

 
Se somos todos iguais, não seria uma discriminação contra os outros, o privilégio dado aos negros no acesso à universidade?”

Ora, não somos iguais, e uma das maiores farsas do direito de classe é a afirmação, consagrada nas chamadas constituições democráticas, de que ‘todos são iguais perante a lei’, que só poderia ser aceita como projeto de uma sociedade igualitária. Numa sociedade de classes, como a brasileira, essa ‘igualdade’ formal, tomada ao pé da letra, significa simplesmente a manutenção das desigualdades e o aprofundamento da dominação dos pobres. Na verdade, somos desiguais  (uns mais fracos outros mais poderosos, uns mais aquinhoados outros menos aquinhoados, uns ricos outros pobres – e, outros, miseráveis), e, por isso, a igualdade só se busca quando os diferentes são tratados de forma diferenciada. A formulação marxiana – ‘De cada um de acordo com suas possibilidades, a cada um de acordo com suas necessidades’ – parece-me a  mais correta e a única de corte humanista. Não pode o Estado cobrar de todos os mesmos deveres, nem oferecer a todos os mesmos direitos, pois, dos poderosos, dos ricos, incumbe-lhe cobrar mais e aos mais fracos, aos mais pobres, oferecer mais (porque deles, tomou e toma mais).

Toma mais dos pobres, também, porque a estrutura tributária é injusta: penaliza o salário e protege o rendimento financeiro. Mas, observe-se que, se a maioria da população legitimar um Estado que de pronto consagre a desigualdade absoluta entre seus súditos, legitimará a Pretória do Apartheid, legitimará o statu dos dalits, intocáveis, seres inferiores para  60% da população indiana. No mundo do homem, é desafio buscar a igualdade na desigualdade.

É farsa dizer que o filho do pobre, já inferiorizado em todos os sentidos por ser pobre e arcar com todas as consequências daí resultantes (moradia precária, má alimentação, baixa escolaridade familiar etc.), que frequenta nossas péssimas escolas públicas de ensino básico, fundamental e médio (quando delas não é afastado para contribuir na composição do salário familiar), desaparelhadas propositalmente desde os primeiros governos militares, é farsa dizer, repita-se, que esse filho do pobre tem, no vestibular de acesso ao ensino superior (e o vestibular já é em si uma consagração da diferença)  as mesmas oportunidades do rebento da classe média alta, que estuda em escolas privadas e caras,  equipadas com laboratórios e bibliotecas, com acesso ao “cursinho”, a estudo particular de línguas e a viagens internacionais de intercâmbio – e, com tudo isso e por tudo isso (acrescente-se à lista a rede de contatos, importantíssima na nossa cultura do favor), ingressa no mercado de trabalho muito mais tarde e com preparo incomparável, numa disputa com só os seus pares.

O Estado (os teóricos do reacionarismo não são burros) quando destrói a opção da escola pública, abastardando sua qualidade, está conscientemente desaparelhando o pobre na disputa do mercado de trabalho e impedindo sua ascensão social e a conquista da cidadania, pois  mercado e  cidadania são reservados aos ‘mais iguais’, os filhos da classe média alta. Quando o Estado põe esse pobre e esse rico “em igualdade de condições” na disputa do que quer que seja, mas principalmente na disputa de uma vaga na universidade pública, está punindo o pobre. E quando digo o pobre, refiro-me, principalmente, aos negros, porque no Brasil a pobreza tem cor. À nossa dívida pela discriminação econômica, soma-se, como elemento ético, a dívida impagável de brancos e escravocratas.

Quando destrói a escola pública, o Estado reacionário decide dificultar o acesso do pobre à escola universitária pública, gratuita e de boa qualidade, e ao fazê-lo procura reservá-la àqueles que puderam frequentar cursos preparatórios de qualidade. A decisão da sociedade de classes é essa: aos pobres a formação secundária de baixa qualidade que não os capacita nem para o vestibular da universidade pública nem para o mercado de trabalho, cada vez mais exigente; aos ricos a escola universitária de qualidade, a carreira universitária, a pesquisa, as grandes clínicas e os grandes escritórios, enfim, a reprodução do poder e da dominação.  É ou não é um sistema de cotas às avessas?

As universidades públicas, sejam estaduais, sejam   federais – por exemplo, a USP, a Unicamp, a UFRJ e outras que tais – são, a rigor, as únicas que oferecem, na área técnica,  laboratório, pesquisa e, quase sempre, bolsas de iniciação científica, custeadas, é evidente, ora pelo CNPq, ora pela Finep, ora pela Fundação de Amparo à Pesquisa do respectivo estado.  Aliás, as universidades públicas são responsáveis por algo como 80% dos cursos (respeitáveis) da área técnica, como as engenharias em geral, medicina, física etc. Por todas essas razões, seus vestibulares são os mais procurados, e, por serem os mais procurados, os mais difíceis. Ou seja, são acessíveis apenas aos vestibulandos mais bem formados, filhos da classe média, de média para alta. Com esses jovens evidentemente não podem concorrer os pobres egressos da escola pública secundária, de baixíssima qualidade, restando-lhes as inumeráveis espeluncas espalhadas pelas esquinas como os botequins, que estão, no país inteiro, há décadas, imprimindo diplomas de ensino superior  sem serventia no mercado competitivo.

Mas quais são os cursos que lhes são reservados, aos pobres, na escola privada? Os técnicos? Não. Esses são caros e o ensino privado é  um ramo da atividade comercial, que persegue o lucro (já há dessas empresas com ações em bolsa!). Aos pobres são destinados os cursos que não requerem laboratórios nem professores de tempo integral, que podem ser dados em salas com mais de 50/60 alunos, cuja didática depende exclusivamente de exposições do professor mal-remunerado correndo de uma escola para outra, de uma aula para outra, para assegurar o salário mensal. Depois de quatro anos de ‘estudos’ e muitas mensalidades e matrículas pagas pelo esforço familiar, o jovem pobre sai da ‘faculdade’ com um canudo de advogado, de jornalista, de assistente social, disso ou daquilo, e volta  para seu empreguinho de origem, no comércio, na indústria, onde puder. Doutor de canudo, anel,  foto e festa de formatura, mas sem qualificação e sem mercado. Enquanto isso, seu colega (de geração) que conclui também o curso, mas ou na universidade pública ou numa PUC, já se prepara, com bolsa, para o mestrado, já pensando no doutorado no exterior. Ou já sai empregado, quando não começa a trabalhar nos últimos semestres. Cedo, recomendado pela verdadeira grife que é o só nome de sua escola, já terá conhecido os primeiros estágios profissionais.

É o ensino na sociedade de classes.
A política de cotas visa a reduzir essa injustiça. Os reacionários de todos os quadrantes bradam que isso quebrará o ‘alto’ padrão do ensino. A realidade – como sempre ela! – os desmente. Os egressos da política de cotas e de programas como o Pró-UNI têm-se revelado, no geral, excelentes alunos.

FONTE: Carta Capital
 http://www.cartacapital.com.br/sociedade/no-brasil-a-pobreza-tem-cor/
Ler Mais

Dilma veta 12 dos 14 artigos do Código Florestal




O anúncio foi feito em entrevista coletiva que conta também com a participação dos ministros Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), Mendes Ribeiro (Agricultura) e Luís Inácio Adams (Advocacia Geral da União).

Segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o governo levou em conta algumas diretrizes para definir os vetos ao Código Florestal. São elas: recompor o texto aprovado pelo Senado; preservar acordos e respeitar o Congresso Nacional; não anistiar o desmatador; preservar os pequenos proprietários; responsabilizar todos pela recuperação ambiental e manter os estatutos de Área de Preservação Permanente (APP) e reserva legal.  

Ela afirmou que o texto favorece os produtores da agricultura familiar, que têm propriedades com limite de até quatro módulos fiscais. Esse grupo abrange cerca de 90% das propriedades rurais e corresponde a 24% da área agrícola do País.

Entre as premissas do governo, disse a ministra, estão a preservação das florestas e dos biomas brasileiros e a produção agrícola sustentável. Izabella Teixeira também disse que o objetivo é não permitir anistia aos desmatadores e nem a redução da proteção ambiental. O veto parcial da presidente Dilma Rousseff é "respeito ao Congresso Nacional e evita a insegurança jurídica", concluiu.

O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, ainda comentou que o novo texto não é dos ambientalistas nem dos ruralistas. "Esse é o Código daqueles que têm bom senso".

Para o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, com o novo texto o governo está garantindo a inclusão social e produtiva de milhares de produtores rurais. Segundo ele, no processo de regularização, não haverá "anistia para ninguém, todos terão de contribuir para a recomposição de áreas de preservação permanente (APP) que foram utilizadas ao longo dos anos". Ele observou que a recomposição será proporcional ao tamanho da propriedade e quem tem mais área de terra vai recompor mais.

De acordo com o ministro da Advocacia Geral da União, Luís Inácio Adams, a presidente decidiu reintroduzir o artigo primeiro do texto aprovado no Senado, que trata dos princípios da lei, pois entende ser essencial para a produção sustentável e o meio ambiente. Dilma vetou ainda o artigo 61 que, segundo Adams, é considerado central para a questão produtiva e social.

MAIS SOBRE O CÓDIGO FLORESTAL

O que é o Código Florestal?
Criado em 1965, o Código Florestal regulamenta a exploração da terra no Brasil, baseado no fato de que se trata de um bem de interesse comum a toda a população.
A legislação estabelece parâmetros e limites para preservar a vegetação nativa e determina o tipo de compensação, como reflorestamento, que deve ser feito por setores que usem matérias-primas, assim como as penas para os responsáveis por desmate e outros crimes ambientais relacionados. A elaboração do Código durou mais de dois anos e foi feita por uma equipe de técnicos.

Como é a proposta do novo Código Florestal?
Desde que foi apresentado pela primeira vez, o projeto de lei sofreu diversas modificações. As principais diferenças entre a nova legislação e o código em vigor dizem respeito à área de terra em que será permitido ou proibido o desmate, ao tipo de produtor que poderá fazê-lo, à restauração das florestas derrubadas e à punição para quem já desmatou.

Por que o atual precisa ser alterado?
Ambientalistas, ruralistas e cientistas concordam que esta é uma necessidade para adaptar as leis nacionais à realidade brasileira e mundial. O atual foi modificado várias vezes por decreto e medidas provisórias e seria necessário algo mais sólido.

O que são as APPs?
As chamadas Áreas de Preservação Permanente (APPs) são os terrenos mais vulneráveis em propriedades particulares rurais ou urbanas. Como têm uma maior probabilidade de serem palco de deslizamento, erosão ou enchente, devem ser protegidas. É o caso das margens de rios e reservatórios, topos de morros, encostas em declive ou matas localizadas em leitos de rios e nascentes. A polêmica se dá porque o projeto flexibiliza a extensão e o uso dessas áreas, especialmente nas margens de rios já ocupadas.

Qual a diferença entre APP e Reserva Legal?
A Reserva Legal é o pedaço de terra dentro de cada propriedade rural - descontando a APP - que deveria manter a vegetação original para garantir a biodiversidade da área, protegendo sua fauna e flora. Sua extensão varia de acordo com a região do país: 80% do tamanho da propriedade na Amazônia, 35% no Cerrado nos Estados da Amazônia Legal e 20% no restante do territó

FONTE: Estadão
Ler Mais

OS “GUERRILHEIROS” DA JUSTIÇA E DA VERDADE


A “ideologia” do individualismo e do consumismo mais pueril é abraçada por expressivo contigente de jovens brasileiros. Mas eles não só priorizam as causas coletivas, como lutam para resgatar a memória do país. As atrocidades cometidas pelos golpistas da ditadura militar há mais de 40 anos não passam de registros esfumaçados, na base do “ouvi falar”, na cabeça do grosso da juventude. Mas eles não aceitam a anistia aos torturadores e clamam por justiça. Eles são os jovens do Levante Popular da Juventude, movimento que vem sacudindo o país com seus “escrachos”.

O roteiro das suas manifestações esbanja originalidade e senso de organização. Preparados de forma meticuolsa por apenas alguns integrantes das várias células do movimento, os detalhes sobre o “escracho” são cercados de sigilo absoluto. O objetivo, claro, é não alarmar os alvos dos protestos – policiais e militares de pijama, que curtem suas aposentadorias sossegados em bairros de classe média, protegidos pela autoanistia concedida pelo Estado brasileiro aos seus agentes que cometeram crimes de lesa-humanidade.

Os “escrachos” já tumultuaram a rotina, feita de sombra e água fresca, de veteranos torturadores de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Guarujá (foto acima), entre outros municípios. Do nada, entre cem e duzentos jovens surgem diante dos seus prédios e escancaram uma faixa : “Aqui mora um torturador”. Em seguida, tem início um esquete teatral sobre sessões de tortura.

Duas reações têm sido comuns aos atos realizados até agora : enquanto os “escrachados” se esmeram em brigar com os fatos e negar da forma menos convincente possível suas participações em tortura, sequestros, assassinatos, ocultação de cadáver, etc, os vizinhos se mostram surpresos e demostram perplexidade ao descobrirem que um torturador mora ao lado. Imagine a reação de Clarisse Herzog, viúva do jornalista Vladimir Herzog, ao saber que Henri Shibata, o médico legista que falsificava laudos para encobrir as mortes por tortura, mora a 300 metros de sua casa, em São Paulo.

Matéria publicada recentemente pela revista Carta Capital, assinada por Rodrigo Martins, revela o perfil dos valorosos jovens que compõem esse muito bem-vindo Levante Popular da Juventude : “Criado em 2006, no Rio Grande do Sul, o Levante é integrado por jovens entre 14 e 28 anos, em sua maioria sem ligação com partidos políticos e sem história familiar de luta contra a ditadura. Os mais velhos têm experiência de militância em universidades ou movimentos sociais, como os Sem Terra (MST) e a Via Campesina. Para muitos, o Levante é a primeira experiência de atuação política. “Conseguimos mobilizar universitários, estudantes secundaristas, jovens trabalhadores, o pessoal que vive nas periferias. É um grupo heterogêneo de diferentes classes sociais, explica o assistente pedagógico Lúcio Lupeno, um dos coordenadores do Levante em Porto Alegre. “Já estou velho, logo mais eu passo o bastão para a moçada mais jovem.”

Segue a matéria da Carta : “Normalmente preocupado com demandas como políticas de acesso à universidade e oferta de emprego para a juventude, o Levante decidiu perseguir torturadores após o seu primeiro acampamento nacional, ocorrido em fevereiro deste ano, em Santa Cruz do Sul (RS), com a presença de 1,2 mil jovens de 17 estados. As várias “células” do grupo espalhadas pelo país, e abrigadas em universidades, escolas e associações comunitárias, resolveram entrar no debate em reação aos militares da reserva, que intensificaram os ataques à Comissão da Verdade. ” Mais do que preservar a memória dos que morreram pela democracia, decidimos entrar nessa discussão porque ainda hoje os jovens, sobretudo os pobres e negros, são vítimas da violência das polícias, com estruturas herdadas da ditadura”,
conta Lupeno (…)”

FONTE: Controvérsia

Link original da matéria
http://www.fazendomedia.com/os-guerrilheiros-da-justica-e-da-verdade/
Ler Mais

Obama não perderá eleitores com o casamento gay



O anúncio de quarta-feira do Presidente Obama, de que ele pessoalmente apoia o casamento entre pessoas do mesmo sexo imediatamente lançou mil e uma análises políticas do tipo desejo-que-seja-verdade, argumentando que o Presidente tinha acabado de matar suas chances de se reeleger ao apoiar uma posição defendida por mais da metade do país. O site Politico esteve particularmente entusiasmado com o apocalipse em torno desta questão, argumentando que o casamento gay vai destruir as chances de Obama em estados-pêndulo fundamentais e assumindo a dúbia posição de que os eleitores negros poderiam abandonar o primeiro presidente negro e décadas de forte filiação Democrata só para acertar os gays. Claro que o autor Joseph Williams admite no artigo que a oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo não é, entre os negros, significativamente maior que a oposição em geral, o que nos faz perguntar por que tal artigo, então, precisaria ser escrito.

Mas os dados das pesquisas nem são o maior problema com os argumentos de que isto pode ou irá prejudicar as chances de Obama de se reeleger. Você pode perfeitamente ter muita gente dizendo a um pesquisador que eles são contra o casamento gay ou mesmo que ele é um pecado, mas isso não lhe diz muito sobre como essas opiniões afetarão seus votos. Essas pesquisas não medem a prioridade que tem o tema na lista do eleitor e, até onde sei, poucas pesquisas medem – se é que alguma o faz – o quanto alguma diferença com uma posição social do candidato prejudica a opinião do eleitor sobre ele. As pessoas, especialmente os eleitores inconsistentes ou pendulares, tendem a avaliar um candidato como elas avaliam as outras pessoas em suas vidas. Para eleitores que têm uma boa opinião sobre Obama mas discordam dele nesse assunto, o mais provável é que a questão seja racionalizada da mesma forma como fazemos com as pessoas em nossas vidas. Não creio que a maioria, ou uma parcela significativa, dos eleitores que votaram contra o casamento gay rejeitariam um amigo ou um ser amado por uma diferença de opinião neste assunto, e portanto apoiar um político de quem eles gostam em outros aspectos não é um grande salto.

O que significa que muita gente que se opõe ao casamento gay o faz de uma forma mais suave que antes. Eles manterão suas crenças, mas eles também percebem os sinais dos tempos e ajustam o seu compromisso com o tema de acordo com esses sinais. Votam contra o casamento gay num plebiscito, sim, mas também já decidiram que não perderão o sono se os tribunais declararem que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é um direito. Como argumenta a escritora cristã Rachel Held Evans, cresce a cada dia entre os cristãos a sensação de que essa luta já não vale a pena. É difícil imaginar que esse cansaço seja revertido de forma forte o suficiente para fazer com que eleitores que seriam, em outras condições, de Obama passem a Romney, ou mesmo que eles fiquem em casa, em vez de votar numa eleição que é vista como um marco fundamental para o futuro econômico do país.

FONTE: Revista Fórum
 Por Amanda Marcotte [11.05.2012 07h08]

Tradução de Idelber Avelar
Ler Mais

OLP critica Israel pelos 45 anos de ocupação e expansão das colônias




Na véspera do aniversário de 45 anos da Guerra dos Seis Dias, que arcou a ocupação efetiva de Israel aos territórios palestinos, a OLP (Organização pela Libertação Palestina) fez duras críticas ao estado invasor, e afirmou publicamente que ela pode se tornar “irreversível”.

"Quarenta e cinco anos depois do começo da ocupação, Israel continua violando deliberadamente a lei internacional através de políticas que minam e ameaçam anular as perspectivas de uma solução de dois Estados", disse hoje em comunicado Hanan Ashrawi, membro do Comitê Executivo da OLP.

Na nota, a dirigente palestina pede ao mundo que "examine o legado da ocupação israelense: um legado de impunidade e atrozes violações da legislação internacional".

Ela acusa Israel "como potência ocupante" de violar as obrigações estabelecidas na Convenção de Genebra e outros tratados internacionais.

Ashrawi condena a expansão das colônias e do que classifica de "políticas extremistas adotadas pelo governo israelense e legisladas pela Knesset (Parlamento) que enviam uma mensagem sinistra: em vez de investir na paz, Israel investe em avançar a ocupação com a construção de assentamentos, a demolição de casas e o deslocamento de milhares de palestinos".

No dia 5 de junho de 1967, tropas israelenses atacaram a força aérea egípcia na Península do Sinai e deram início a uma guerra contra os egípcios, a Síria e a Jordânia. Como resultado, no dia 10 de junho conquistou o Sinai, as colinas de Golã, na Síria, e os territórios da Cisjordânia e Faixa de Gaza, além de anexar a porção oriental de Jerusalém.

O Sinai foi devolvido ao Egito, enquanto Gaza foi desocupada em 2005. Atualmente Israel nem cogita negociar Jerusalém, enquanto várias colônias continuam ser criadas na Cisjordânia.

Mais de meio milhão de colonos israelenses vivem hoje nos territórios ocupados, indica a OLP, que assegura que Israel expropriou de fato 46% do território da Cisjordânia.

Desde então, boa parte da população palestina vive sob um regime de ocupação militar que afeta quase todos os aspectos de seu dia a dia e que lhes submete a leis e a uma justiça militar imposta por um país que não é o seu.

 No dia 5 de junho de 1967, tropas israelenses atacaram a força aérea egípcia na Península do Sinai e deram início a uma guerra contra os egípcios, a Síria e a Jordânia. Como resultado, no dia 10 de junho conquistou o Sinai, as colinas de Golã, na Síria, e os territórios da Cisjordânia e Faixa de Gaza, além de anexar a porção oriental de Jerusalém.

O Sinai foi devolvido ao Egito, enquanto Gaza foi desocupada em 2005. Atualmente Israel nem cogita negociar Jerusalém, enquanto várias colônias continuam ser criadas na Cisjordânia.

Mais de meio milhão de colonos israelenses vivem hoje nos territórios ocupados, indica a OLP, que assegura que Israel expropriou de fato 46% do território da Cisjordânia.

Desde então, boa parte da população palestina vive sob um regime de ocupação militar que afeta quase todos os aspectos de seu dia a dia e que lhes submete a leis e a uma justiça militar imposta por um país que não é o seu.
 No dia 5 de junho de 1967, tropas israelenses atacaram a força aérea egípcia na Península do Sinai e deram início a uma guerra contra os egípcios, a Síria e a Jordânia. Como resultado, no dia 10 de junho conquistou o Sinai, as colinas de Golã, na Síria, e os territórios da Cisjordânia e Faixa de Gaza, além de anexar a porção oriental de Jerusalém.

O Sinai foi devolvido ao Egito, enquanto Gaza foi desocupada em 2005. Atualmente Israel nem cogita negociar Jerusalém, enquanto várias colônias continuam ser criadas na Cisjordânia.

Mais de meio milhão de colonos israelenses vivem hoje nos territórios ocupados, indica a OLP, que assegura que Israel expropriou de fato 46% do território da Cisjordânia.

Desde então, boa parte da população palestina vive sob um regime de ocupação militar que afeta quase todos os aspectos de seu dia a dia e que lhes submete a leis e a uma justiça militar imposta por um país que não é o seu.

FONTE: Ópera Mundi
Ler Mais

Londres-2012, as Olimpíadas do Medo



Até 48 mil policiais e 13,5 mil soldados. Baterias de mísseis aéreos posicionadas no alto de prédios residenciais. Uma arma sônica que dispersa multidões, criando “dor de rachar a cabeça”. Drones não-tripulados vigiando tudo do céu. Uma zona de segurança, contornada por uma cerca elétrica de mais de 17km, cercada por agentes treinados e 55 grupos de cães para ataque.

Você poderia pensar que essas são as táticas usadas pelas bases norte-americanas no Iraque e Afeganistão, ou talvez os métodos militares ensinados a ditadores do terceiro mundo na Escola das Américas em Forte Benning, Georgia. Mas elas fazem parte do aparato ostensivo de segurança preparado em Londres, para as Olimpíadas de 2012.
Na capital britânica, que já tem mais câmeras de segurança por pessoa que qualquer outra cidade no mundo, há sete anos os governantes não economizam para monitorar seus cidadãos. Mas a operação olímpica vai além de tudo o que já se viu, quando uma democracia ocidental hospeda os jogos. Nem mesmo a China em 2008 usou aviões não-tripulados (drones), nem cercou as instalações olímpicas com uma imensa cerca de alta voltagem. Mas aqui está Londres, preparando uma contra-insurgência, e posicionando um porta-aviões no meio do rio Tâmisa. Aqui está Londres, instalando scanners, cartões de identificação biométrica, sistemas de vigilância que reconhecem placas de carros e rostos, sistemas de rastreamento de doenças, novos centros de controle policial e pontos de revista.

Stephen Graham refere-se a estas táticas, no jornal The Guardian, como “Lockdown London” [algo como "Londres Cercada"]. É “a maior mobilização de militares e forças de segurança do Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial”. Ele não está exagerando. O número de soldados irá superar as forças que o Reino Unido enviou ao Afeganistão.
Não se trata apenas dos custos e de inacreditável invasão de privacidade. O poder está sendo passado para a polícia. A “lei dos jogos olímpicos em Londres”, de 2006 capacita, além do exército e da polícia, forças de segurança privadas para lidar com “questões de segurança” usando força física. Essas “questões de segurança” foram definidas de forma ampla. Incluem tudo: de “terrorismo” até protestos pacíficos, ações sindicais, camelôs vendendo produtos das Olimpíadas nas ruas, banimento de qualquer presença corporativa que não tenha o selo de aprovação das Olimpíadas. Para ajudar a cumprir a última parte, haverá “equipes de proteção de marcas” na cidade. Também operarão nas instalações olímpicas, para garantir que ninguém “vista roupas ou acessórios com mensagens comerciais que não sejam dos patrocinadores oficiais”.


A operação de segurança também inclui assédio nas ruas. Como reportou o Guardian, “policiais têm poder de deslocar qualquer pessoa que considerem engajada em comportamento antissocial, como dar voltas em estações de trem, pedir dinheiro, mendigar, caminhar indolentemente, cobrir-se com capuz ou qualquer outra maneira de causar incômodo”.

Não há razão alguma para que as Olimpíadas sejam assim. Uma celebração internacional de esportes – particularmente mais diversos do aqueles com que estamos acostumados – não precisa de drones e porta-aviões. Não existe razão para que atletas do mundo inteiro necessitam de tal aparato para se unir e mostrar seu potencial físico.

Mas as Olimpíadas atuais estão para o esporte assim como a guerra do Iraque estava para a democracia. As Olimpíadas não são têm a ver com atletas. E definitivamente não estão relacionadas a “unir a comunidade das nações”. São um cavalo de Tróia neoliberal destinado a ampliar negócios e reverter as liberdades civis mais elementares.

Sem querer chocar ninguém, sustento: não há sinais de que esse aparato de segurança será desmontado depois do término das Olimpíadas. As forças policiais ganharam um número excessivo de brinquedos, as caixas foram abertas.

Num certo sentido, as Olimpíadas sempre cumpriram este papel. Desde a Berlim comandada por Hitler em 1936, até a chacina de estudantes na Cidade do México, em 1968; o ataque às gangues em Los Angeles em 1984; o desalojamento em massa de cidadãos em Beijing em 2008, a “repressão” sempre foi parte dos jogos. Mas no mundo pós 11 de Setembro, as apostas são muito mais altas. As Olimpíadas tornaram-se a colher de açúcar que ajuda a tomar o remédio; o remédio é que nossos governantes descobriram o inimigo; e o inimigo somos todos nós.

FONTE: Outras Palavras
 Por Dave Zirin | Tradução Daniela Frabasile


Ler Mais

Marcha das Vadias: por que marchamos?



Em Brasília, marchamos porque apenas nos primeiros cinco meses desse ano, foram 283 casos registrados de mulheres estupradas, uma média de duas mulheres estupradas por dia, e sabemos que ainda há várias mulheres e meninas abusadas cujos casos desconhecemos; marchamos porque muitas de nós dependemos do precário sistema de transporte público do Distrito Federal, que nos obriga a andar longas distâncias sem qualquer segurança ou iluminação para proteger as várias mulheres que são violentadas ao longo desses caminhos.

No Brasil, marchamos porque aproximadamente 15 mil mulheres são estupradas por ano, e mesmo assim nossa sociedade acha graça quando um humorista faz piada sobre estupro, chegando ao cúmulo de dizer que homens que estupram mulheres feias não merecem cadeia, mas um abraço; marchamos porque nos colocam rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas de TV nas tardes de domingo e utilizam nossa imagem semi-nua para vender cerveja, vendendo a nós mesmas como mero objeto de prazer e consumo dos homens; marchamos porque vivemos em uma cultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindo em “santas” e “putas”, e muitas mulheres que denunciam estupro são acusadas de terem procurado a violência pela forma como se comportam ou pela forma como estavam vestidas; marchamos porque a mesma sociedade que explora a publicização de nossos corpos voltada ao prazer masculino se escandaliza quando mostramos o seio em público para amamentar nossas filhas e filhos; marchamos porque durante séculos as mulheres negras escravizadas foram estupradas pelos senhores, porque hoje empregadas domésticas são estupradas pelos patrões e porque todas as mulheres, de todas as idades e classes sociais, sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo da vida, seja simbólica, psicológica, física ou sexual.

No mundo, marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir culpa e vergonha pela expressão de nossa sexualidade e a temer que homens invadam nossos corpos sem o nosso consentimento; marchamos porque muitas de nós somos responsabilizadas pela possibilidade de sermos estupradas, quando são os homens que deveriam ser ensinados a não estuprar; marchamos porque mulheres lésbicas de vários países sofrem o chamado “estupro corretivo” por parte de homens que se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um desvio sexual; marchamos porque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um marido violentou a esposa e, nesse momento, várias mulheres e meninas estão tendo seus corpos invadidos por homens aos quais elas não deram permissão para fazê-lo, e todas choramos porque sentimos que não podemos fazer nada por nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas podemos.

Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas, já fomos chamadas de vadias porque transamosantes do casamento, já fomos chamadas de vadias por simplesmente dizer “não” a um homem, já fomos chamadas de vadias porque levantamos o tom de voz em uma discussão, já fomos chamadas de vadias porque andamos sozinhas à noite e fomos estupradas, já fomos chamadas de vadias porque ficamos bêbadas e sofremos estupro enquanto estávamos inconscientes, por um ou vários homens ao mesmo tempo, já fomos chamadas de vadias quando torturadas e curradas durante a Ditadura Militar. Já fomos e somos diariamente chamadas de vadias apenas porque somos MULHERES.
 
Mas, hoje, marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredir enquanto mulheres. Se, na nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓS SOMOS VADIAS. E somos todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos livres de rótulos, de estereótipos e de qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida, à nossa sexualidade e aos nossos corpos. Estar no comando de nossa vida sexual não significa que estamos nos abrindo para uma expectativa de violência, e por isso somos solidárias a todas as mulheres estupradas em qualquer circunstância, porque tiveram seus corpos invadidos, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidade destroçada e muitas vezes foram culpadas por isso. O direito a uma vida livre de violência é um dos direitos mais básicos de toda mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hoje e marcharemos até que todas sejamos livres.

Somos todas as mulheres do mundo! Mães, filhas, avós, putas, santas, vadias…todas merecemos respeito!
Ler Mais

Movimento 'Veta Dilma' contra o Código Florestal



São Paulo – A campanha que pede o veto total da presidenta Dilma Rousseff ao projeto de lei que altera o Código Florestal brasileiro já tem a adesão de 1,3 milhão de internautas. O número de assinaturas vem crescendo em um momento em que se aproxima a definição da questão.

O substitutivo ao Projeto de Lei 1876, de 1999, foi aprovado no último dia 25 e chegou esta semana ao Palácio do Planalto. Agora, Dilma tem até o dia 25 para definir se veta a matéria total ou parcialmente. Ministros já adiantaram que o texto tal como aprovado pela Câmara não será sancionado.

O Executivo gostaria que tivesse sido aprovado pelos deputados o texto enviado pelo Senado, mas a bancada de representantes do agronegócio promoveu uma série de alterações sem o consentimento presidencial.

Para os organizadores do abaixo-assinado, incentivado por organizações socioambientais, trata-se de uma lei que dá aos madeireiros e fazendeiros carta branca para desmatar. “O universo está conspirando a nosso favor. Em algumas semanas Dilma será anfitriã da maior conferência ambiental do mundo. Informantes nos disseram que ela não pode pagar o preço de ser considerada a líder que aprovou a devastação da Amazônia”, diz a página na internet.

É uma referência à Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que será realizada em junho na capital fluminense. O encontro, que deve atrair dezenas de chefes de Estado, tem a expectativa de fechar uma agenda de sustentabilidade para a economia mundial. Hoje (8), o presidente eleito da França, François Hollande, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, confirmaram em conversa telefônica com a presidenta que comparecerão ao debate.
Ler Mais

Instalada a Comissão da Verdade para investigar os crimes da ditadura militar



Brasília – “Não falo mais. A partir de hoje, é só trabalho”, afirmou, lacônico, Paulo Sérgio Pinheiro após tomar posse como membro da Comissão Nacional da Verdade, nesta quarta-feira (16). Os sete integrantes do grupo que deverá esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas entre 1946 e 1988 começaram a trabalhar imediatamente depois da solenidade. A primeira reunião foi realizada no Palácio do Planalto, com a presença dos ministros da Casa Civil, Justiça e Advocacia-Geral da União, e serviu apenas para delinear a estrutura de trabalho do colegiado.

“Foi uma reunião essencialmente burocrática”, declarou o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e coordenador da Comissão da Verdade, Gilson Dipp. O magistrado garantiu que a presença de autoridades do governo não influenciou – nem influenciará – os trabalhos do grupo. “Somos uma comissão de Estado e não estamos subordinados a ninguém”, asseverou. “Temos a mais ampla liberdade de trabalhar conforme nossas consciências e em obedecimento à lei.”

De acordo com Dipp, as prioridades da Comissão serão definidas na próxima reunião, marcada para segunda-feira (22). Na ocasião também deverão começar a precisar o conceito de “graves violações aos direitos humanos”, que norteará os trabalhos do grupo e que tem suscitado controvérsias. Afinal, os membros analisarão os crimes cometidos apenas pelos agentes do Estado ou também pelos militantes da esquerda? “Vamos investigar aquilo que seja efetivamente grave: desaparecimento, tortura, morte. A comissão não tem como fazer interpretações subjetivas. Temos de cumprir a lei.”

No entanto, algumas declarações anteriores permitem vislumbrar alguns dos caminhos que possivelmente serão trilhados pela apuração. “Os militantes [de esquerda] não tiveram como esconder seus crimes. Não há nenhuma queixa de familiares de mortos pelos militantes dizendo que não sabem onde estão seus parentes”, afirma a psicanalista Maria Rita Kehl, membro da Comissão da Verdade, lembrando que, se não há ocultamento, não há o que investigar.

O período estipulado pela lei – que determina a investigação dos abusos cometidos entre 1946 e 1988 – também deve fazer com que a Comissão da Verdade escolha mais facilmente seus focos de atuação. “É um período tão longo que muito provavelmente nós vamos focar mais na ditadura”, ocorrida entre 1964 e 1985. “Porém, não vamos, evidentemente, recusar pistas que possam nos levar a desaparecidos políticos do outro período autoritário.”

Dor e incompletude

 

Vítimas da repressão e familiares de mortos e desaparecidos políticos durante o regime militar também marcaram presença na cerimônia de posse da Comissão Nacional da Verdade. E exaltaram a instauração do grupo. “A dor é muito forte”, comentou Matheus Guimarães, sobrinho de Honestino Guimarães, militante de esquerda cujo paradeiro permanece desconhecido desde 1973. “É como ter uma biografia com páginas em branco. Dá um sentimento de incompletude.”

Matheus resume a importância da elucidação dos crimes cometidos pelo Estado durante a ditadura misturando sua vida com a trajetória da democracia brasileira. “Ao passo que eu conheço a história do meu tio, eu conheço também minha própria história. E ao passo que eu conheço minha própria história, a sociedade brasileira conhece também sua história”, argumenta. “Esperamos que nossa dor e incompletude seja sanada pelos trabalhos da Comissão.”

Ana Maria Freire, viúva do pedagogo Paulo Freire – que foi perseguido e preso pela ditadura –, comemorou o início dos trabalhos da Comissão da Verdade como um alento para quem sofreu com a repressão. “Não são apenas sete pessoas estudando processos e documentos para dizer quem matou, quem torturou e quem morreu”, analisou. “O pano de fundo é a possibilidade do Brasil ter a democracia que merece.”

Essa mesma democracia é festejada pela ex-presa política Ieda Seixas, que dividiu cela com a hoje presidenta Dilma Rousseff, viu toda sua família ser colocada atrás das grades e seu pai assassinado nos porões da ditadura. “O custo foi muito alto, mas valeu a pena”, diz sobre a sensação de presenciar a instalação do grupo que investigará, entre outros casos, o seu.

Punições

 

“Gostaria que os responsáveis fossem punidos, mas criaram uma Lei de Anistia em que o próprio Estado se anistiou”, lamenta. “Eu era considerada uma infratora, mas os agentes do Estado não. Foram covardes. Agiram em nome do Estado e até hoje têm medo de assumir o que fizeram.”

Todos os integrantes da Comissão da Verdade negaram a possibilidade de que suas investigações acabem originando processos criminais contra pessoas que serão acusadas por tortura, desaparecimentos e assassinatos. “Pelos termos da lei, hoje, não”, precisou o ministro do STJ Gilson Dipp. E Maria Rita Kehl completou: “A presidenta Dilma foi muito clara: a Lei de Anistia não está sendo contestada, e a Lei de Anistia anistiou os dois lados.”

Com ou sem punições, de acordo com o ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles, as investigações possivelmente serão um marco na história do Brasil. “O Estado brasileiro reconhece que agentes públicos violaram os direitos humanos. Essa é a lei, e temos que se ater aos termos da lei”, analisou. “Se o Estado sendo posto como infrator dos direitos humanos, nós vamos necessariamente reconstruir a história.”

FONTE: Rede Brasil Atual
Ler Mais

A vitória dos pataxós, os verdadeiros donos da terr

O dia 2 de maio fica marcado como uma data de imensa alegria e vitória para os Povos Indígenas. O Supremo Tribunal Federal (STF) considerou nulos, por sete votos a um, os títulos de terra localizados no território Pataxó Hã Hã Hãe em área indígena no sul da Bahia. Algumas das considerações dos ministros merecem destaque por permitirem reflexões sobre a justa luta dos povos indígenas por suas terras. 

O ministro Celso de Mello afirmou que “ninguém pode se tornar dono de terras ocupadas por índios, que pertencem à União e, como tais, não podem ser negociadas (Ministro Celso de Mello, STF, 02/05/2012)”[1]. 

Assim, pensamos que: as ocupações feitas pelos povos indígenas nas terras ancestrais não deveriam ser ações consideradas como invasões e sim como retomadas dos territórios que foram retirados ilegalmente. Contudo, acreditamos que tais terras pertencem acima de tudo aos Povos Indígenas e não ao Estado Brasileiro, apesar de competir a União e à justiça não-indígena zelar por este direito. Por isto somos favoráveis ao seguinte trecho da Constituição de 1988: 

Capítulo VIII Dos Índios 
Art. 231: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. (…) 

§ 2.º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. 

Deste modo, as terras indígenas ocupadas irregularmente devem ser desocupadas o mais rápido possível, não por pertencerem a União e sim por serem dos Povos Indígenas. 

Já o ministro Ayres Britto salientou: “(…) para o índio, a terra não é um bem mercantil, passível de transação. ‘Para os índios, a terra é um totem horizontal, é um espírito protetor, é um ente com o qual ele mantém uma relação umbilical” (Ministro Ayres Britto, STF, 02/05/2012). 

Acreditamos que o misticismo e força dos povos indígenas brasileiros, assim como da América, advêm da natureza da terra. A luta pelas terras tradicionais não é para obtenção de propriedades. É a luta pelo sagrado, pela natureza e por aqueles que mais a preservam: os índios. 

Entretanto, apesar da grande vitória dos Pataxó Hã Hã Hãe, agora é preciso observar com atenção como será feita a retirada dos fazendários da área indígena e de possíveis vinganças contra aquela comunidade. A retirada ficou a cargo da União e por isto esperamos que a mesma seja realizada o mais rápido possível e com toda segurança.

 Por Carlos José Ferreira dos Santos*
 FONTE: Outras Palavras

Carlos José Ferreira dos Santos é professor pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Coordenador do Projeto PIBID-UESC-Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença

 LEIA MAIS AQUI
Ler Mais

As fotografias de Sebastião Salgado

Sebastião Salgado procura fazer as pessoas refletirem sobre a situação econômica do local retratado, seja por meio do choque, ou seja por meio da imagem nua e crua da pobreza, da dor, e da fome. Uma vez questionado em uma de suas exposições, disse: "Espero que a pessoa que entre nas minhas exposições não seja a mesma ao sair" . Como economista, o que despertou o interesse dele para a fotografia, foi o fato dela expressar, com maior impacto e intensidade, a situação de miséria em que vivem as pessoas de países africanos da região do Sahel, como também a violência da Guerra Civil da Angola. Através de suas lentes, Salgado explora temas clássicos da Economia como desigualdade social e globalização. Sua intenção é gerar debate ao redor dessas questões expondo-as da forma mais clara possível em suas imagens. Leia mais aqui
VEJA MAIS AQUI
Ler Mais

Michael Löwy critica Rio+20 e a propaganda da 'economia verde'

Em junho, o Brasil sedia a Rio+20, a cúpula mundial de meio ambiente, um dos temas da edição 180 de Caros Amigos, que está nas bancas. A cúpula já divide opiniões, como a do pesquisador Michael Löwy, um dos entrevistados da reportagem publicada na revista.
Confira abaixo a entrevista de Löwy, feita pela jornalista Bárbara Mengardo. Leia a reportagem completa sobre a Rio+20 na edição nas bancas (veja aqui).

Caros Amigos - O que você espera da Rio+20, tanto do ponto de vista das discussões quanto da eficácia de possíveis decisões tomadas?

Michael Löwy - Nada! Ou, para ser caridoso, muito pouco, pouquíssimo… As discussões já estão formatadas pelo tal "Draft Zero", que como bem diz (involuntariamente) seu nome, é uma nulidade, um zero à esquerda. E a eficácia, nenhuma, já que não haverá nada de concreto como obrigação internacional. Como nas conferências internacionais sobre o câmbio climático em Copenhagen, Cancun e Durban, o mais provável é que a montanha vai parir um rato: vagas promessas, discursos, e, sobretudo, bons negócios 'verdes". Como dizia Ban-Ki-Moon, o secretário das Nações Unidas - que não tem nada de revolucionário – em setembro 2009, "estamos com o pé colado no acelerador e nos precipitamos ao abismo”. Discussões e iniciativas interessantes existirão sobretudo nos fóruns Alternativos, na Contra-Conferência organizada pelo Fórum Social Mundial e pelos movimentos sociais e ecológicos.

CA - Desde a Eco 92, houve mudanças na maneira como os estados lidam com temas como mudanças climáticas, preservação das florestas, água e ar, fontes energéticas alternativas, etc.? Se sim, o quão profundas foram essas mudanças?

ML - Mudanças muito superficiais! Enquanto a crise ecológica se agrava, os governos - para começar o dos Estados Unidos e dos demais países industrializados do Norte, principais responsáveis do desastre ambiental - "lidaram com o tema", desenvolveram, em pequena escala, fontes energéticas alternativas, e introduziram "mecanismos de mercado" perfeitamente ineficazes para controlar as emissões de CO2. No fundo, continua o famoso "buzines as usual", que, segundo cálculo dos cientistas, nos levara a temperaturas de 4° ou mais graus nas próximas décadas.

CA - Em comparação a 1992, a sociedade está muito mais ciente da necessidade de proteção do meio ambiente. Esse fato poderá influir positivamente nas discussões da Rio+20?

ML - Esta sim é uma mudança positiva! A opinião pública, a "sociedade civil", amplos setores da população, tanto no Norte como no Sul, está cada vez mais consciente de necessidade de proteger o meio ambiente - não para "salvar a Terra" - nosso planeta não está em perigo - mas para salvar a vida humana (e a de muitas outras espécies) nesta Terra. Infelizmente, os governos, empresas e instituições financeiras internacionais representados no Rio+20 são pouco sensíveis à inquietude da população, que buscam tranquilizar com discursos sobre a pretensa "economia verde". Entre as poucas exceções, o governo boliviano de Evo Morales.

CONTINUE LENDO AQUI 


Fonte: Revista Caros Amigos
Ler Mais

Partido de piratas digitais sacode a política da Alemanha

O Partido Pirata, um grupo vagamente organizado de ativistas digitais, está fincando um pé nas assembleias legislativas dos Estados daqui, sacudindo a sóbria classe política alemã.

O Pirata acredita em compartilhamento de arquivos, privacidade on-line e democracia digital, mas sua plataforma não tem políticas para os principais problemas do momento, como a crise de dívida da zona do euro. Só que isso não está impedindo que eles avancem.

Cerca de 10% dos eleitores alemães apoiam o partido, de acordo com pesquisas de opinião. Eles devem ganhar cadeiras em duas importantes assembleias estaduais no início de maio, inclusive a do Estado mais populoso da Alemanha, o de Renânia do Norte-Vestfália. Uma votação alta nessas eleições regionais poderia colocar os piratas no caminho de uma verdadeira façanha: cadeiras no parlamento federal do país, nas próximas eleições nacionais.

"Os tremores serão sentidos daqui até Berlim" se o Pirata entrar na assembleia de Renânia do Norte-Vestfália, diz Joachim Paul, o principal candidato do partido na região.

A ascensão desse movimento está complicando a vida dos partidos estabelecidos da Alemanha, que podem ter dificuldades para formar as coalizões majoritárias de costume nos âmbitos estadual e nacional, se a popularidade do Pirata se mostrar duradoura.

"Se eles conseguirem entrar em Renânia do Norte-Vestfália, as chances de entrarem no parlamento federal não serão tão ruins", diz Oskar Niedermayer, um cientista político da Universidade Livre, de Berlim.

Os piratas representam um "novo estilo" na política da Alemanha, diz Niedermayer. O objetivo declarado do partido é trazer a revolução digital para a política, tornando o governo mais transparente e acessível. Eles conquistaram a imaginação da geração Facebook, assim como de eleitores menos afeitos à tecnologia, mas desiludidos com os políticos apáticos dos partidos dominantes da Alemanha.

"O que todos nós temos em comum é o desejo de ser ativo na democracia das massas", diz Kai Hemsteeg, que tem 30 anos e é investigador de polícia. Ele era um funcionário local do partido conservador da chanceler Angela Merkel, o União Democrática Cristã, mas diz que os piratas são mais abertos à participação.

O Partido Pirata foi fundado em 2006 no porão de uma casa noturna chamada C-Base, um ponto de encontro dos amantes da tecnologia. Ele é parte de um movimento internacional que começou na Suécia, cuja principal causa é o livre compartilhamento de arquivos on-line, inclusive através de leis de direitos autorais mais brandas. Dos cerca de 50 partidos Piratas ao redor do mundo, nenhum teve o mesmo impacto eleitoral que o alemão.

A tacada decisiva dos piratas alemães aconteceu em setembro, quando eles ganharam quase 9% dos votos, e 15 das 149 cadeiras, nas eleições estaduais de Berlim. Eles voltaram à carga mês passado, ao ganhar 4 das 51 cadeiras da Assembleia Legislativa do Estado de Sarre. Agora, os piratas pretendem repetir o feito em 6 de maio na região de Schleswig-Holstein, no norte, e em 13 de maio no coração industrial da Alemanha, Renânia do Norte-Vestfália.

Os piratas vêm roubando eleitores dos democratas livres, que são pró-mercado, agravando a crise que se abate sobre o mais novo integrante da coalizão de centro-direita de Angela Merkel. As pesquisas de opinião mostram que o partido Democrata Livre está penando para atingir a marca de 5% necessária para ganhar cadeiras na assembleia de Renânia do Norte-Vestfália, e podem até ficar de fora do parlamento nacional no ano que vem.

Os piratas também estão prejudicando o partido Verde, de centro-esquerda, que antigamente exibia o mesmo espírito rebelde, mas depois se tornou parte do sistema. O líder dos verdes, Jürgen Trittin, diz que os piratas são "o problemas estrutural mais sério" do seu partido.

Joachim Drell, candidato dos verdes em Essen, diz que receia que a ascensão dos piratas vá impedir o seu partido e o Social-Democrata de ganharem uma maioria de centro-esquerda em Renânia do Norte-Vestfália. "O Pirata é um partido de protesto com alguns pontos válidos, mas um programa muito vago, e isso o torna difícil de enfrentar", diz Drell.

Os piratas admitem que eles precisam de políticas. "Nós somos definitivamente um partido em formação", diz Paul, o líder regional do Pirata.

Num encontro recente dos piratas em Essen, os membros debateram como responder perguntas da imprensa sobre assuntos para os quais o partido ainda não tem uma posição definida. "Nós temos que ser honestos: nós temos que dizer somente que nós não sabemos ainda qual é a nossa posição", diz Matthias Bock, um estudante de pós-graduação e candidato pelo Pirata.

Bock tem, sim, uma ideia sobre o que fazer sobre o forte endividamento de Renânia do Norte-Vestfália se foi eleito para o parlamento estadual. Ele quer que a inteligência coletiva da comunidade encontre soluções para o déficit orçamentário via "crowdsourcing". Há sigilo demais em torno dos dados dos 490 municípios do Estado, diz ele. "Estou lutando para publicar esses dados", diz ele, levantando os olhos de seu laptop.

Embora a imagem pública do Partido Pirata seja o de um grupo de nerds do sexo masculino, isso está mudando à medida que cresce o apoio ao partido. A agremiação está diante de seu primeiro desafio interno: a ala jovem reclama que o partido está dominado por homens brancos com laptops e que precisa integrar melhor mulheres e minorias.


De The Wall Street Journal
Por WILLIAM BOSTON, de Essen
Ler Mais

“Militantes de esquerda foram incinerados em usina de açúcar”


Ele lançou bombas por todo o país e participou, em 1981 no Rio de Janeiro, do atentado contra o show do 1º de Maio no Pavilhão do Riocentro. Esteve envolvido no assassinato de aproximadamente uma centena de pessoas durante a ditadura militar. Trata-se de um delegado capixaba que herdou os subordinados do delegado paulista Sérgio Paranhos Fleury nas forças de resistência violenta à redemocratização do Brasil.

Apesar disso, o nome de Cláudio Guerra nunca esteve em listas de entidades de defesa dos direitos humanos. Mas com o lançamento do livro “Memórias de uma guerra suja”, que acaba de ser editado, esse ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) entrará para a história como um dos principais terroristas de direita que já existiu no País.

Mais do que esse novo personagem, o depoimento recolhido pelos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, ao longo dos últimos dois anos, traz revelações bombásticas sobre alguns dos acontecimentos mais marcantes das décadas de 70 e 80.

Revelações sobre o próprio caso do Riocentro; o assassinato do jornalista Alexandre Von Baumgarten, em 1982; a morte do delegado Fleury; a aproximação entre o crime organizado e setores militares na luta para manter a repressão; e dos nomes de alguns dos financiadores privados das ações do terrorismo de Estado que se estabeleceu naquele período.


A reportagem do iG teve acesso ao livro, editado pela Topbooks. O relato de Cláudio Guerra é impressionante. Tão detalhado e objetivo que tem tudo para se tornar um dos roteiros de trabalho da Comissão da verdade, criada para apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar (1964-1988).

David Capistrano, Massena, Kucinski e outros incinerados

Cláudio Guerra conta, por exemplo, como incinerou os corpos de dez presos políticos numa usina de açúcar do norte Estado do Rio de Janeiro. Corpos que nunca mais serão encontrados – conforme ele testemunha – de militantes de esquerda que foram torturados barbaramente.

“Em determinado momento da guerra contra os adversários do regime passamos a discutir o que fazer com os corpos dos eliminados na luta clandestina. Estávamos no final de 1973. Precisávamos ter um plano. Embora a imprensa estivesse sob censura, havia resistência interna e no exterior contra os atos clandestinos, a tortura e as mortes.”

Os dez presos incinerados 

-- João Batista e Joaquim Pires Cerveira, presos na Argentina pela equipe do delegado Fleury;
-- Ana Rosa Kucinsk e Wilson Silva, “a mulher apresentava marcas de mordidas pelo corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente, e o jovem não tinha as unhas da mão direita”;
-- David Capistrano (“lhe haviam arrancado a mão direita”) , João Massena MelloJosé Roman eLuiz Ignácio Maranhão Filho, dirigentes históricos do PCB;
-- Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho, militantes da Ação Popular Marxista Leninista (APML).

O delegado lembrou do ex-vice-governador do Rio de Janeiro Heli Ribeiro, proprietário da usina de açúcar Cambahyba, localizada no município de Campos, a quem ele fornecia armas regularmente para combater os sem-terra da região. Heli Ribeiro, segundo conta, “faria o que fosse preciso para evitar que o comunismo tomasse o poder no Brasil”.

Cláudio Guerra revelou a amizade com o dono da usina para seus superiores: o coronel da cavalaria do Exército Freddie Perdigão Pereira, que trabalhava para o Serviço Nacional de Informações (SNI), e o comandante da Marinha Antônio Vieira, que atuava no Centro de Informações da Marinha (Cenimar).

Afirma que levou, então, os dois comandantes até a fazenda:
“O local foi aprovado. O forno da usina era enorme. Ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano.”
“A usina passou, em contrapartida, a receber benefícios dos militares pelos bons serviços prestados. Era um período de dificuldade econômica e os usineiros da região estavam pendurados em dívidas. Mas o pessoal da Cambahyba, não. Eles tinham acesso fácil a financiamentos e outros benefícios que o Estado poderia prestar.”


Ler Mais
 
BLOGATU ZN | by TNB ©2010