A
“ideologia” do individualismo e do consumismo mais pueril é abraçada
por expressivo contigente de jovens brasileiros. Mas eles não só
priorizam as causas coletivas, como lutam para resgatar a memória do
país. As atrocidades cometidas pelos golpistas da ditadura militar há
mais de 40 anos não passam de registros esfumaçados, na base do “ouvi
falar”, na cabeça do grosso da juventude. Mas eles não aceitam a anistia
aos torturadores e clamam por justiça. Eles são os jovens do Levante
Popular da Juventude, movimento que vem sacudindo o país com seus
“escrachos”.
O roteiro das suas manifestações esbanja originalidade e senso de
organização. Preparados de forma meticuolsa por apenas alguns
integrantes das várias células do movimento, os detalhes sobre o
“escracho” são cercados de sigilo absoluto. O objetivo, claro, é não
alarmar os alvos dos protestos – policiais e militares de pijama, que
curtem suas aposentadorias sossegados em bairros de classe média,
protegidos pela autoanistia concedida pelo Estado brasileiro aos seus
agentes que cometeram crimes de lesa-humanidade.
Os “escrachos” já tumultuaram a rotina, feita de sombra e água
fresca, de veteranos torturadores de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de
Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Guarujá (foto acima), entre outros
municípios. Do nada, entre cem e duzentos jovens surgem diante dos seus
prédios e escancaram uma faixa : “Aqui mora um torturador”. Em seguida,
tem início um esquete teatral sobre sessões de tortura.
Duas reações têm sido comuns aos atos realizados até agora : enquanto
os “escrachados” se esmeram em brigar com os fatos e negar da forma
menos convincente possível suas participações em tortura, sequestros,
assassinatos, ocultação de cadáver, etc, os vizinhos se mostram
surpresos e demostram perplexidade ao descobrirem que um torturador mora
ao lado. Imagine a reação de Clarisse Herzog, viúva do jornalista
Vladimir Herzog, ao saber que Henri Shibata, o médico legista que
falsificava laudos para encobrir as mortes por tortura, mora a 300
metros de sua casa, em São Paulo.
Matéria publicada recentemente pela revista Carta Capital, assinada
por Rodrigo Martins, revela o perfil dos valorosos jovens que compõem
esse muito bem-vindo Levante Popular da Juventude : “Criado em 2006, no
Rio Grande do Sul, o Levante é integrado por jovens entre 14 e 28 anos,
em sua maioria sem ligação com partidos políticos e sem história
familiar de luta contra a ditadura. Os mais velhos têm experiência de
militância em universidades ou movimentos sociais, como os Sem Terra
(MST) e a Via Campesina. Para muitos, o Levante é a primeira experiência
de atuação política. “Conseguimos mobilizar universitários, estudantes
secundaristas, jovens trabalhadores, o pessoal que vive nas periferias. É
um grupo heterogêneo de diferentes classes sociais, explica o
assistente pedagógico Lúcio Lupeno, um dos coordenadores do Levante em
Porto Alegre. “Já estou velho, logo mais eu passo o bastão para a moçada
mais jovem.”
Segue a matéria da Carta : “Normalmente preocupado com demandas como
políticas de acesso à universidade e oferta de emprego para a juventude,
o Levante decidiu perseguir torturadores após o seu primeiro
acampamento nacional, ocorrido em fevereiro deste ano, em Santa Cruz do
Sul (RS), com a presença de 1,2 mil jovens de 17 estados. As várias
“células” do grupo espalhadas pelo país, e abrigadas em universidades,
escolas e associações comunitárias, resolveram entrar no debate em
reação aos militares da reserva, que intensificaram os ataques à
Comissão da Verdade. ” Mais do que preservar a memória dos que morreram
pela democracia, decidimos entrar nessa discussão porque ainda hoje os
jovens, sobretudo os pobres e negros, são vítimas da violência das
polícias, com estruturas herdadas da ditadura”,
conta Lupeno (…)”
conta Lupeno (…)”
Link original da matéria
http://www.fazendomedia.com/os-guerrilheiros-da-justica-e-da-verdade/

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