O anúncio de quarta-feira do Presidente
Obama, de que ele pessoalmente apoia o casamento entre pessoas do mesmo
sexo imediatamente lançou mil e uma análises políticas do tipo
desejo-que-seja-verdade, argumentando que o Presidente tinha acabado de
matar suas chances de se reeleger ao apoiar uma posição defendida por mais da metade do país.
O site Politico esteve particularmente entusiasmado com o apocalipse em
torno desta questão, argumentando que o casamento gay vai destruir as chances de Obama em estados-pêndulo fundamentais e assumindo a dúbia posição de que os eleitores negros poderiam abandonar o primeiro presidente negro
e décadas de forte filiação Democrata só para acertar os gays. Claro
que o autor Joseph Williams admite no artigo que a oposição ao casamento
entre pessoas do mesmo sexo não é, entre os negros, significativamente
maior que a oposição em geral, o que nos faz perguntar por que tal
artigo, então, precisaria ser escrito.
Mas os dados das pesquisas nem são o
maior problema com os argumentos de que isto pode ou irá prejudicar as
chances de Obama de se reeleger. Você pode perfeitamente ter muita gente
dizendo a um pesquisador que eles são contra o casamento gay ou mesmo
que ele é um pecado, mas isso não lhe diz muito sobre como essas
opiniões afetarão seus votos. Essas pesquisas não medem a prioridade que
tem o tema na lista do eleitor e, até onde sei, poucas pesquisas medem –
se é que alguma o faz – o quanto alguma diferença com uma posição
social do candidato prejudica a opinião do eleitor sobre ele. As
pessoas, especialmente os eleitores inconsistentes ou pendulares, tendem
a avaliar um candidato como elas avaliam as outras pessoas em suas
vidas. Para eleitores que têm uma boa opinião sobre Obama mas discordam
dele nesse assunto, o mais provável é que a questão seja racionalizada
da mesma forma como fazemos com as pessoas em nossas vidas. Não creio
que a maioria, ou uma parcela significativa, dos eleitores que votaram
contra o casamento gay rejeitariam um amigo ou um ser amado por uma
diferença de opinião neste assunto, e portanto apoiar um político de
quem eles gostam em outros aspectos não é um grande salto.
O que significa que muita gente que se
opõe ao casamento gay o faz de uma forma mais suave que antes. Eles
manterão suas crenças, mas eles também percebem os sinais dos tempos e
ajustam o seu compromisso com o tema de acordo com esses sinais. Votam
contra o casamento gay num plebiscito, sim, mas também já decidiram que
não perderão o sono se os tribunais declararem que o casamento entre
pessoas do mesmo sexo é um direito. Como argumenta a escritora cristã Rachel Held Evans,
cresce a cada dia entre os cristãos a sensação de que essa luta já não
vale a pena. É difícil imaginar que esse cansaço seja revertido de forma
forte o suficiente para fazer com que eleitores que seriam, em outras
condições, de Obama passem a Romney, ou mesmo que eles fiquem em casa,
em vez de votar numa eleição que é vista como um marco fundamental para o
futuro econômico do país.
FONTE: Revista Fórum
Por Amanda Marcotte [11.05.2012 07h08]
Tradução de Idelber Avelar

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