A exatos 40 anos, o jovem sorocabana Alexandre Alexandre Vannucchi Leme era morto pela ditadura militar. Seu nome hoje batiza o Diretório Central dos Estadantes da USP, onde ele cursava o curso de geologia. A Biografia abaixo foi retirada do DOSSIÊ DE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS NO BRASIL.
Biografia
Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN). Nasceu em 5 de outubro de 1950, em Sorocaba, SP, filho de José de Oliveira Leme e Egle Maria Vanucchi Leme.
Foi morto, aos 22 anos de idade, em São Paulo.
Fez o ginasial no Instituto de Educação Estadual Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, em Sorocaba/SP. Cursava o quarto ano de geologia na USP quando foi assassinado. Foi preso por agentes do DOI/CODI-SP no dia 16 de março de 1973, por volta das 11 horas. As torturas infligidas a Alexandre iniciaram-se assim que deu entrada nas dependências do DOI/CODI, tendo sido a equipe C a primeira a torturá-lo.
Tal equipe era chefiada pelo delegado de polícia conhecido pelo nome de "Dr. Jorge" e composta pelos seguintes elementos: escrivão de polícia Gaeta, tenente da PM Mário, investigador de polícia conhecido como "Oberdan" e o carcereiro do DOI/CODI conhecido como "Marechal".
No dia seguinte, Alexandre foi torturado pelos membros da equipe A, chefiada pelo torturador de nome "Dr. José" e pelo investigador conhecido por "Dr. Tomé" e composta por: "Caio" ou "Alemão", "Dr. Jacó", "Silva", "Rubens", todos orientados diretamente pelo comandante daquele departamento, o então major Carlos Alberto Brilhante Ulstra.
As torturas prolongaram-se até pouco depois do meio-dia, tendo então Alexandre sido colocado na cela-forte.
Por volta das 17 horas, o carcereiro conhecido pelo nome de "Peninha" foi retirá-lo da cela para levá-lo para mais uma sessão de tortura. Alexandre não respondia aos gritos do carcereiro que, intrigado, entrou na escura cela-forte e constatou que estava morto, saindo da cela aos gritos de "o homem morreu". Os torturadores correram todos para ver o corpo de Alexandre e o retiraram da cela-forte, arrastando-o pelas pernas.
Tal cena, assistida por todos os demais presos recolhidos às dependências do DOI-CODI naquele dia era brutal: Alexandre sangrava abundantemente na região do abdômen.
A morte de Alexandre foi justificada pelos torturadores, perante a acusação dos demais presos, como tendo sido provocada por suicídio com auxílio de uma lâmina de barbear. Somente no dia 23 de março os órgãos de segurança divulgaram sua morte, com a notícia de que fora atropelado ao tentar fugir da prisão.
Tal versão foi desmentida categoricamente nos depoimentos prestados no mês de julho de 1973, perante a 1ª Auditoria Militar, pelos seguintes presos políticos: Luis Vergatti, Cesar Roman dos Anjos Carneiro, Leopoldina Brás Duarte, Carlos Vítor Alves Delamônica, Walkiria Queiroz Costa, Roberto Ribeiro Martins, José Augusto Pereira, Luís Basílio Rossi e Neide Richopo. Tais depoimentos foram citados pelo Ministro do STM Rodrigo Otávio Jordão Ramos no dia 26 de abril de 1978.
Como a nota oficial só foi divulgada vários dias após o assassinato de Alexandre, sua família só pôde localizar o corpo quando este já se encontrava enterrado. Detalhe bastante significativo é que Alexandre fora enterrado sem qualquer espécie de caixão, em cova rasa e forrada de cal-virgem, a fim de que a decomposição do corpo fosse acelerada e apagadas as marcas evidentes das torturas que o levaram à morte.
Um fato importante que evidencia a farsa montada para encobrir o assassinato de Alexandre sob tortura é a declaração do delegado Sérgio Fleury à família Vanucchi Leme que, em evidente e cínica confissão de "fracasso" dizia "não ter sido possível obter de Alexandre sequer o local de sua própria residência". Segundo o livro "Gritos de Justiça", de Mário Simas, publicado pela Fundação Getúlio Vargas, seus pais, em 20 de março de 1973, receberam um telefonema anônimo informando que Alexandre se encontrava preso no DOPS/SP. Lá e em outros órgãos da repressão onde o procuraram sempre ouviram negativas. Dias depois, quando sua morte já havia sido publicada pela imprensa, no IML/SP, foram informados que havia sido enterrado como indigente no Cemitério de Perus.
Apesar de haverem constituído advogado imediatamente após a notícia de sua prisão, somente 10 anos depois puderam resgatar seus restos mortais. Foi instaurado um inquérito pelo DEOPS para apurar a morte de Alexandre e encaminhado para a 2ª Auditoria Militar, onde o Juiz Auditor Nelson da Silva Machado Guimarães o encaminhou para o Comandante do II Exército e, como era de se esperar, foi arquivado sem solução.
A necrópsia, feita no IML/SP, em 22 de março de 1973, pelos Drs. Isaac Abramovitch e Orlando Brandão, confirma a falsa versão oficial publicada de que teria se atirado sob um veículo, sofrendo contusão na cabeça. A certidão de óbito, falsamente atesta sua morte em 17 de março de 1973, após atropelamento na Rua Bresser, em São Paulo, SP, quando era levado ao Hospital das Clínicas.
Em 1983, finalmente os restos mortais de Alexandre foram trasladados para Sorocaba, sua terra natal.

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